terça-feira, 28 de abril de 2009

Comida para os orixás

O Brasil é um imenso caldeirão. A comida, sob um olhar estético, informa o significado do que se come e de como se come. Num país onde o alimento ultrapassa a dimensão material, encontramos o valor espiritual herdado de nossos antepassados, principalmente dos povos africanos. Comidas do cotidiano, da festa de rua, da festa religiosa. Comidas do mundo dos homens, dos orixás e de tantos outros deuses que fazem parte das mitologias nacionais. Comidas feitas com pimenta, azeite-de-dendê, inhame, cará, banana aproximam o Brasil dos países africanos, pois estes ingredientes foram trazidos da África.

No Candomblé de nação Ketu, os adeptos acreditam nos orixás. Na nação Jeje, estas divindades são conhecidas como voduns e na nação Angola são chamadas de inquices. As semelhanças são bastante próximas e por isso vamos utilizar o termo orixá por ser mais conhecido.

Cada pessoa carrega em sua identidade alguma característica marcante de uma destas divindades. Dando de comer ao orixá, o adepto está alimentado a essência de seu próprio “eu” e faz aflorar aspectos de sua personalidade que estavam adormecidos. “Dar de comida ao orixá” é alimentar seu deus interior. É fortalecer o conjunto de características de uma pessoa assim como ela é, sem qualificações do tipo “bom” ou “mal”. Trata-se de uma simbologia que o Candomblé defende, pois se a pessoa não alimentar seu deus pessoal, ele deixa de existir. Aqui, o ser humano é que cria e sustenta a divindade. Aumentando sua auto-estima, o indivíduo não aceita ser inferiorizado. Encontra dentro de si forças para não se permitir subjugado.

Muita gente come dos bolinhos feitos com a massa de feijão fradinho pilado, fritos no azeite-de-dendê e recheados com camarão, caruru e vatapá. Mas pouca gente sabe que o acarajé é oferecido a Iansã, deusa dos ventos, das tempestades, dos raios e trovões.


Vamos conhecer um pouco do que é oferecido aos orixás mais cultuados no Brasil?

Exu representa o elemento transformador do universo. É o princípio dinâmico e está associado a comunicação e a sexualidade. É oferecido a Exu farofa de azeite-de-dendê temperada com cebola, camarão seco e pimenta.

Ogum é orixá do progresso, do avanço, da tecnologia. É orixá guerreiro dos metais, especialmente do ferro. É Ogum quem abre os caminhos numa mata fechada. Come inhame assado regado com azeite-de-dendê e feijoada.

Oxossi é o rei do Candomblé de nação Ketu. Está intimamente associado às matas, à caça e à pesca. Suas oferendas são axoxó (milho cozido enfeitado com coco) e frutas.

Ossaim é o que conhece o segredo de todas as folhas. No candomblé não se faz nada sem as folhas. O domínio de Ossaim é a floresta. Pode ser oferecido a Ossaim: fumo, mel, espigas de milho regadas com mel.

Omolu representa a terra, senhor das doenças e epidemias, mas também das curas. Deburu (pipoca) é sua principal oferenda.

Oxumaré está associado ao arco-íris e associado aos movimentos e aos ciclos. Para Oxumaré geralmente são oferecidos ovos cozidos com azeite-de-dendê.

Nanã Buruku sintetiza em si a morte, a fecundidade e a riqueza. Representa a mãe ancestral. Está associada à água, ao barro. Seu prato é o Aberem (milho torrado e pilado do qual é feito um fubá com açúcar ou mel), mugunzá.
Oxum é a bela deusa sensual do amor e da fecundidade. Na natureza manifesta-se nas águas doces e cristalinas dos rios, lagoas, córregos, nascentes. Oxum é o amor em todas as dimensões, símbolo da gestação, da fertilidade e da fartura. Pode ser oferecido a Oxum: Omolocum (feijão fradinho cozido, temperado com cebola e camarão seco e enfeitado com ovos cozidos), Ipeté(inhame, azeite-de-dendê,cebola e gengibre ralados, camarão seco e camarão grande para enfeitar).
Logum Edé é o menino caçador. É filho de Oxum e Oxossi. Representa a fartura e a riqueza. Suas comidas são as que são oferecidas a Oxum e Oxossi.

Iansã é a deusa dos ventos, das tempestades e como já foi dito antes, sua comida é o acarajé, mas pode comer também abará.
Obá é a representação da mulher consciente de seu poder. Representante das sociedades secretas femininas, obá é uma guerreira valente, mas que se anula quando ama. Seus domínios são as águas revoltas, que gera energia e remete ao poder do fogo. Na culinária, divide com Xangô o amalá, apesar de poder oferecer a ela acarajé e amalá.

Ewá é a virgem da mata virgem. Sob a proteção de Oxossi, tornou-se uma valente guerreira e habilidosa caçadora. É senhora do céu estrelado, rainha do cosmo. Está relacionada à água, à mata e ao ar. Sua comida é feita com banana frita no azeite-de-dendê.

Iemanjá é a mãe de todos. Divide com Oxum o domínio sobre a maternidade. Pode ser oferecido a ela manjar, acaçá ( bolinho feito de canjica branca).

Xangô é a personificação da justiça e do poder. É orixá do fogo. Suas oferendas é amalá (quiabo cortado temperado com cebola, camarão seco, peito de gado desfiado) servido em uma gamela enfeitada com 12 quiabos.

Oxalá é o orixá da criação. Representa a essência da vida e seu principal elemento é o ar. Suas comidas são o ebô (canjica branca), acaçá e inhame.